A descoberta de 200 espécimes de macrofósseis raros mostra que as condições climáticas e físicas do Permiano não foram iguais em todo o supercontinente de Gondwana.
Em um artigo publicado no periódico Journal of South American Earth Sciences, pesquisadores da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul, descrevem a descoberta de fósseis raros no interior do estado, associados ao fenômeno de extinção em massa ocorrido ao fim da Era Paleozoica [ocorrida entre 541 e 252 milhões de anos atrás].
O estudo trata da existência, durante o Permiano — período geológico que se estendeu de 299 a 251 milhões de anos atrás, o último da era Paleozoica —, de um conjunto “único e notável” de espécies que prosperaram no supercontinente Gondwana, no local em que hoje se encontra a América do Sul.
Segundo os pesquisadores, o material fóssil dessas espécies vegetais foi identificado no sul da Bacia do Paraná, uma bacia intracratônica composta por rochas sedimentares resultantes de atividades vulcânicas, que se estende do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, além de abarcar partes da Argentina, do Paraguai e do Uruguai.
O afloramento das espécies encontradas na Bacia — datadas do Guadalupiano, intervalo médio do Permiano — é considerado um fenômeno raro em escala global, especialmente no contexto do Gondwana. Em geral, fósseis dessa flora são identificados como fragmentos isolados em vez de grandes comunidades vegetais preservadas.
No município de Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul, próximo à fronteira com o Uruguai, foi identificado um afloramento da rara flora guadalupiana fossilizada, segundo o estudo. A descoberta ocorreu no Cerro Chato, pertencente à Supersequência Gondwana I, uma extensa unidade geológica sedimentar que atravessa o Paleozoico e o Mesozoico.
"Um total de 200 espécimes de plantas macrofósseis foram coletados no Cerro Chato", relata o artigo, dos quais "103 apresentavam características de identificação preservadas".
Entre os táxons descobertos na formação estão Lycopsida, Sphenopsida, Pteridospermae, Filicopsida e Gymnospermae. A presença dessas plantas indica que as condições áridas do Permiano não foram uniformes em todo o Gondwana: cinturões úmidos permitiram o florescimento de florestas que funcionaram como “pontos críticos de biodiversidade” antes da extinção em massa registrada no Guadalupiano.
"O registro geológico e paleontológico do Permiano é fundamental para a compreensão da resposta dos ecossistemas terrestres e marinhos às crises globais", afirmam os autores, "pois testemunhou uma série de mudanças climáticas e ambientais em escala global".
Durante a extinção guadalupiana, "as comunidades vegetais foram fortemente impactadas pelo aquecimento global e, consequentemente, pela ocorrência de incêndios florestais". Os registros fossilizados da rara flora do Gondwana ajudam a entender melhor como a natureza reage a dinâmicas extremas dessa magnitude.