Descoberto em 1947, enigmático fóssil levantou debate por mais de 70 anos sobre o ser, que a ciência não soube definir se era ou não um animal; entenda!
O Dickinsonia é um ser enigmático que, durante décadas, desafiou cientistas do mundo inteiro com uma pergunta aparentemente simples, mas de difícil resposta: afinal, seria ele um animal ou não?
Esse debate se estendeu por mais de 75 anos, desde que o primeiro fóssil desse tipo de organismo foi descoberto, em 1947, em um penhasco russo às margens do Mar Branco. Em 2018, estudo publicado na revista Science aparentemente colocou fim à controvérsia, classificando a Dickinsonia como o animal mais antigo já identificado.
Biota Ediacarana
Com impressionantes 558 milhões de anos, o fóssil em questão pertence à chamada Biota Ediacarana — um grupo de organismos misteriosos que viveram na Terra antes da chamada explosão cambriana, evento conhecido por marcar o surgimento dos principais grupos de animais modernos.
Até recentemente, muitos especialistas acreditavam que a vida animal teria começado apenas nessa fase. Mas as novas descobertas indicam que os animais surgiram milhões de anos antes.
Moléculas fossilizadas
A comprovação, de acordo com o estudo, veio com a descoberta de moléculas de gordura fossilizadas — mais especificamente, colesterol — dentro do Dickinsonia.
"As moléculas de gordura fóssil que encontramos provam que os animais eram grandes e abundantes milhões de anos antes do que pensávamos anteriormente", afirmou Jochen Brocks, professor da Universidade Nacional Australiana (ANU) e um dos autores do estudo.
O colesterol é um tipo de lipídio considerado assinatura da vida animal, o que permitiu que a equipe científica confirmasse de forma conclusiva a identidade biológica do Dickinsonia.
O processo de descoberta foi tão fascinante quanto desafiador. De acordo com o portal All That's Interesting, para garantir a integridade das amostras, o pesquisador Ilya Bobrovskiy viajou até a remota região de falésias no Mar Branco, onde os fósseis da Dickinsonia ainda preservavam matéria orgânica.
"Peguei um helicóptero para chegar a esta parte muito remota do mundo — lar de ursos e mosquitos — onde pude encontrar fósseis de Dickinsonia com matéria orgânica ainda intacta", contou. Ele precisou se pendurar em cordas nas encostas de penhascos de até 100 metros de altura para extrair blocos de arenito e encontrar os fósseis preservados.
Aparência exótica
A fonte destaca que o Dickinsonia era um organismo ovalado, com segmentos parecidos com costelas que se estendiam por todo o corpo, podendo atingir até 1,4 metro de comprimento. Sua aparência exótica e a falta de traços óbvios de órgãos ou estruturas típicas dos animais sempre geraram dúvidas quanto à sua natureza.
Com essa nova confirmação, os cientistas não apenas resolvem um dos mistérios mais antigos da paleontologia, mas também ressignificam a linha do tempo da vida na Terra. O estudo mostra que formas complexas de vida animal já existiam muito antes do que se imaginava, ampliando nossa compreensão sobre as origens da biodiversidade e da própria história evolutiva do planeta.