Cientistas encontram fóssil extremamente raro com órgãos preservados: espécie pode ser única no mundo

Descoberta impressionante na África do Sul revela fóssil com 444 milhões de anos e órgãos internos fossilizados em detalhes — espécie é tão singular que pode representar um ramo desconhecido da evolução animal.

Um fóssil com impressionantes 444 milhões de anos, encontrado na África do Sul, está intrigando a comunidade científica por apresentar órgãos internos excepcionalmente preservados — uma raridade extrema no campo da Paleontologia. A descoberta, considerada um marco para o estudo da evolução animal, foi resultado de mais de 25 anos de pesquisas meticulosas conduzidas por cientistas do Reino Unido.


O espécime foi localizado na formação geológica Soom Shale, uma camada sedimentar conhecida por suas condições únicas de preservação de tecidos moles. Além de representar um feito técnico notável, o fóssil pode pertencer a uma espécie até então desconhecida pela ciência, o que levanta novas hipóteses sobre a diversidade da vida marinha no período Ordoviciano, uma era marcada por uma das maiores extinções em massa da história do planeta.

Com estruturas internas como músculos, sistema digestivo e possíveis tendões fossilizados em detalhes surpreendentes, esse fóssil lança uma nova luz sobre a biologia dos primeiros artrópodes marinhos e reforça a importância de ambientes geológicos raros na conservação do registro fóssil. A descoberta não apenas amplia o conhecimento sobre o passado remoto da Terra, como também desafia os cientistas a repensarem os caminhos da evolução animal em períodos pouco compreendidos da história natural.

O enigma do fóssil raro com órgãos preservados

O fóssil foi encontrado na formação geológica conhecida como Soom Shale, composta por silte e argila, situada a cerca de 400 km ao norte da Cidade do Cabo, na África do Sul. Essa formação é famosa por sua capacidade de preservar tecidos moles, o que foi essencial para o estado notável de conservação do espécime.

Batizado de Keurbos Sue — ou Keurbos Susanae, em homenagem à mãe da paleontóloga responsável pela descoberta — o fóssil pertence a um artrópode marinho primitivo, grupo que inclui atualmente animais como camarões, lagostas, aranhas e centopeias. No entanto, a espécie em si parece não ter paralelo com nenhum outro organismo conhecido, o que faz dela uma possível “única representante” de sua linhagem.

Uma descoberta que levou 25 anos

A paleontóloga Sarah Gabbott, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, liderou o estudo que levou mais de 25 anos para ser concluído. O tempo foi necessário não apenas por causa da raridade do exemplar, mas também pela complexidade envolvida na sua análise. O fóssil apresenta órgãos internos fossilizados com riqueza de detalhes — incluindo músculos, sistema digestivo e até estruturas que podem ter sido tendões —, enquanto sua carapaça externa, membros e cabeça se deterioraram ao longo das eras.

Segundo Gabbott, a fossilização dos tecidos internos foi possível graças a condições ambientais muito específicas: águas profundas, frias, pobres em oxigênio e com alto teor de sulfeto de hidrogênio, o que impediu a decomposição normal e favoreceu processos químicos de preservação raríssimos.

Desafios na interpretação e mistérios não resolvidos


A ausência das partes externas do fóssil — como pernas e cabeça — tornou o trabalho de identificação ainda mais desafiador. Durante anos, a equipe de pesquisadores esperou encontrar outro exemplar com estruturas complementares, o que não aconteceu. Para piorar, o pequeno local de escavação onde Sue foi descoberta acabou sendo praticamente destruído, tornando improvável o surgimento de novos fósseis da mesma espécie.

Esse cenário dificulta a classificação do animal na árvore evolutiva, já que a comparação com outros fósseis do mesmo período — o Ordoviciano, há cerca de 444 milhões de anos — é limitada. Ainda assim, a conclusão mais sólida até agora é que se trata de um artrópode marinho primitivo, o que já é um dado valioso para entender a diversidade de formas de vida que surgiram após uma das maiores extinções em massa da história.

Brasil também registra fóssil raro com órgãos moles preservados

Embora a descoberta de Sue seja única em muitos aspectos, o Brasil também se destacou recentemente com um achado de alto valor científico. Um grupo de pesquisadores brasileiros da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revelou em 2023 a descoberta de fósseis de peixes encontrados no sul do Brasil com preservação de tecidos moles extremamente rara.

Os peixes, que viveram há mais de 290 milhões de anos, tiveram partes como cérebro, meninges, fragmentos do coração, olhos e brânquias fossilizados. Esses registros são cruciais para entender a evolução do sistema nervoso central nos vertebrados e complementam o avanço que fósseis como o de Keurbos Sue representam para o conhecimento da vida na Terra.

Uma janela para o passado

A descoberta do fóssil de Sue não apenas amplia o conhecimento sobre os animais do período Ordoviciano, mas também reforça a importância de preservar e estudar formações geológicas raras, que podem esconder verdadeiros tesouros da história da vida no planeta. O fato de órgãos internos estarem fossilizados em tal nível de detalhe permite aos cientistas reconstruir a biologia de seres extintos de forma mais precisa do que nunca.

Sarah Gabbott, ao nomear o fóssil em homenagem à mãe, destacou não só o valor científico da descoberta, mas também o lado humano por trás da ciência. Em tom bem-humorado, ela afirmou que Sue era “muito bem preservada”, assim como sua mãe, mas, na verdade, a homenagem foi motivada pelo apoio incondicional que recebeu ao longo da carreira.


 

Fonte: FaunaNEWS

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